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Mostrando postagens de dezembro, 2009
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Vem ter comigo Vem ter comigo para que, juntos, cavalguemos a noite a buscar a luz tão mais intensa que nos levará ao dia Vem ter comigo para que velejemos o dia em corpos mancomunados olhos semi-cerrados como a projetar a tarde vindoura. Vem ter comigo para que a mágica tarde livre-nos de todos os males e nos apresente mais tarde à "AURORA BOREALIS". Vem ter comigo para que o cio do céu de inveja não nos açoite e nos encontre ciando a mais ciante das noites. Vem ter comigo no fim deste dia, prenúncio de um dia novo antecessão de outros dias, com noites em sucessão. Vem ter comigo para que o ciclo dos dias não veja no ciclo da gente nada novo ou diferente de um ciclo só de paixão. Vem ter comigo para que, juntos, morramos clamando vida e para que renasçamos a cada volúpia. Vem ter comigo para que nossa união seja sempre bendita sem mácula, preconceito, vergonha ou culpa. Vem ter comigo para que, corpos em ócio, unidos, durmamos nus. Vem ter comigo pois, tu és me

Apologia à sabiá-laranjeira

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Apologia à sabiá - laranjeira Essa luz que me invade não é o bastante para amainar a angústia que me traspassa Nem o chilreio caótico dos pardais quer me traduzir o desejo de um bom dia. Bom -dia, dia luzente! Mesmo que a mim me pareça que todos os dias são iguais: monótonos e sombrios dias em cujas horas hei de vagar, apático, com a carapaça que travisto. Pela janela que, como solícitos braços, abre-se ao parco verde de raras árvores de pouca fronde umas aquí, outras acolá, penetram, misturados à balbúrdia pardálica, maviosos acordes alentadores. É minha amiga sabiá - laranjeira arguta conselheira que, cotidianamente, nesses dias primaverís, desperta - me com seu canto como a querer dizer - me: - Bom -dia, prisioneiro! Desperta para a vida! Sim, amiga sábia... tu, como eu, sabes que sou enclausurado em meu próprio espírito embora tenha me concedido Hábeas Corpus para satisfazer alheias alegrias. Tu, que tens do céu a garandeza como universo e que tens por pasto a n
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Preciso de alguém Preciso de alguém que me faça ser educado, que amanheça ao meu lado. que sempre me compreenda, se necessário, me repreenda, dizendo sempre: - Meu amor... Preciso de alguém que sempre me dê coragem, que queira seguir viagem pra onde quer que eu vá, sem ao menos perguntar pra onde é que eu vou. Preciso de alguém que queira mudar minha vida, que lute comigo na lida, que me aponte os caminhos, que queira receber meus carinhos, que me mostre o meu valor. Preciso de alguém que me tenha mais que amizade, que satisfaça minhas vontades, que me beije com paixão, que sempre me estenda a mão e que tenha o cheiro da flor. Preciso de alguém que queira se sentir amada, que queira ser cortejada, cantada nos mais belos versos e queira ser a dona do universo e de tudo de belo que for. Preciso de alguém que ao me ver, me sorria, que me mostre sua alegria num espontâneo sorriso. Por Deus, deste alguém eu preciso sem demora, por favor, pra me tirar desta angústia, desta agon
FUNERAL DE UM POETA I Acabem com um poeta e apresentem à sua alma a conta da inumação. Não precisa réquiem que um poeta só prega a poesia e, por isso mesmo, só crê no que pode ver ou sentir para santificar pelo cunho da palavra. Não precisa lágrimas que a memória de um poeta, nenhum pranto lava. Não acendam velas que a poesia já o tornou iluminado e ele próprio distribuiu seu lume sem perder o brilho, sem perder o brio. Quantos de vocês, impiedosos homicidas, não se deleitaram com seus feitos antes que suas imundas mãos assassinas liquidassem o portentoso? Quantas vezes não lhes serviu de consolo o laivo de seus versos o carisma de seu universo que, de qualquer modo, lhes amainou as angústias? Acabem com um poeta mas, não lhe cavem sepultura funda que um poeta não precisa se esconder; não lhe abram cova profunda para que possam brotar como sementes os despojos de sua mente ainda que sejam para semear um lúgubre lugar. não precisa marcar a data que um poeta, despropositadamente, viveu
CLÍMAX Lentamente bamboleias; este bambolear que arranca de mim os cicios que te cativam. Minhas mãos ébrias e aventureiras vagueiam displicentes por tuas formas, provocando frêmitos que te bolinam. De súbito, te vejo sucumbir; e tão intensamente, que me leva contigo. Meu sangue borbulhante verte-se em corredeiras que deságuam aonde então, já se tinha feito mar. As ávidas línguas que se entrelaçam e sorvem-se, uma à outra, o calor febril das peles que se atritam, o leite salgado, o fragor dos corpos torpes, os gemidos lacônicos e plangentes, são as evidências do clímax deste mágico momento. Depois o torpor... os olhos magnetizados, fitam-se apaixonadamente enquanto que as mãos afagam as faces em sinal de agradecimento. Embevecidos, permanecemos assim... Meu peito cheio de amor, teu corpo cheio de mim. Morrendo de exaustão, quedamo-nos de lado, contentes em saber que, de exaustão, todos os dias, morremos para a vida. Italmar Menezes
Galeria * Teu rosto assim... tão paz; teus olhos assim... tão luz; e o tempo assim... no tempo parado, como a argüir do futuro a lembrança do passado. Por que mãos assim... tão dádivas? E tez assim... tão dúvidas, como se rogasses por nós a remissão que não merecêssemos? Por que semblantes assim... tão pudicos, como a conter a voz do que nem mesmo disséssemos? E como ficas assim... imóvel e muda, a me fitar recriminante, no altar desta galeria com teu olhar desconcertante e teu rosto pálido de quem me repudia. São teus traços justos que me afugentam com a rapidez de quem me denuncia e este teu ar brando que me acolhe com o calor de quem me acaricia. Italmar Menezes * - Este poema dá título ao livro que num futuro poderá estar à disposição dos amantes da poesia.

O retrato

O retrato Um jovem vaidoso, desde muito cedo admirava tudo que fosse bem feito; extasiava-se com formas perfeitas, cores vivas e bem combinadas, beleza bem distribuída. Nesta obstinação, cresceu cuidando da própria beleza, praticando esportes a fim de obter um corpo atlético, com músculos bem definidos, visitando freqüentemente o dentista, intentando preservar o mais brilhante sorriso, gastando somas em cabeleireiros para realçar ainda mais seus atributos, enfim, fazendo o possível e o impossível no intuito de conseguir a admiração, a veneração e os comentários efusivos de todos. Um dia, resolveu que deveria perpetuar sua beldade sob a forma de uma pintura, desde que esta fosse executada pelo mais renomado artista, pois deveria ser retratada com fidelidade a sua excelência. Dentre os inúmeros artífices indicados ou espontâneos que se lhe apareceram, chamou-lhe a atenção um ancião de mãos trêmulas que lhe disse: - Meu jovem senhor: ao pintar o seu retrato, dou-lhe a garantia de que
Revolta Marolou... E o mar atrevido, em furor insano, Com grande ruído, colidiu nas pedras Gigantesco e desumano, Para me espargir. O vento que segredava às palmas E encrespava as águas claras, Bramiu rude... Bramiu rude o leve vento E remoinhou à minha volta Para me tornar poento . Ribombou... E o trovão ousado, Não se contendo calado, Fremiu a terra a mim cercana Num estrondo invulgar Para me assustar. Relampejou... E o fulgente raio, Cortando a tarde escura Numa pressa de afligir, Desceu à minha procura Para me ferir. Depois choveu... Mas, não se fez a borrasca; A chuva branda que se deu Veio apenas me lavar do pó, medo e ferida E daquela tarde sofrida que se ocultava no além-mar. Arrependido, Roguei a comiseração da natureza, que, não se abstendo de frieza, brandiu suas armas contra mim, entretanto, evitando me golpear Porque, contra ela blasfemei, sim , Quando jurei não te amar. Italmar Menezes

A noite

A noite É noite ... e os olhos felinos já mudam de cor; As mentes ensaiam as festas do amor. É noite... sorria, que a noite é condescendente e os neuróticos estão a se recolher. Antes que a poeira do estresse se assente, é preciso saber o que fazer. Se apresse, se livre do estresse, a noite é o caminho; se agite que a noite é o caminho pr´um papo e um chopinho; o mais, é o que rola. Deixe que a noite disso se encarregue. Não tema, a noite é o esquema pra tudo dar pé. Se apronte, Não perca um instante, vai lá, vai na fé! Tem gente na cola. Essa é a noite, se envolva,se entregue; sorria, ria, que a noite tem pressa. Amanhã, outro dia e o dia não interessa. Sorria, ria, que cura a ressaca da gente; Amanhã, a azia num dia efervescente. Sorria! Ria, que a noite é tardia e eu quero acordar ao seu lado pra lhe fazer mais uma folia, declamar uma poesia, olhá-la de um jeito safado e lhe desejar um bom-dia! Sorria! sorria! Italmar Menezes