Anseios

Anseios

Na avidez do tempo, antecipo a tua presença; prevejo cada segundo, cada palavra que hei de te dizer, cada carícia que minhas trêmulas e ébrias mãos hão de fazer na perfeição de teu corpo.
Quanto mais meu pensamento se volta a tí, mais o tempo teima em divagar nas horas...
Devagar...
Devagar...
Na agonia do preguiçoso tempo, antevejo nossos braços enlaçados num abraço tão perfeito quanto dois anéis a envolver Saturno; nossos lábios selados num beijo tão perfeito como fossem as línguas a goiabada e o queijo entre duas fatias de pão; nossos corpos unidos numa simetria tão perfeita como se fôssemos um só.
Mas, o tempo, Senhor das vontades, me atira punhais de anseios e, aos poucos, como é do tempo, vai provocando a morte das minhas aspirações. Talvez, no tempo chegado, eu apenas me permita calar-me em todos os idiomas conhecidos, para que somente o ruidoso silêncio do meu olhar apaixonado revele a rendição da minha alma ao teu doce encanto.


Italmar Menezes
19/12/2006