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Olhar misterioso

  E mistério O que contém Esse olhar de caramelo É falsete ou será sério É olhar puro e singelo É olhar duro e sincero Quanto quer falar Um olhar silente Quanto quer calar Um olhar carente Ares a suspirar Num olhar ausente Águas a rolar De um olhar doente Há um real mistério Em um olhar que é sério E Alegre a um tempo Ninguém há de decifrar A magia desse olhar Deixa esvair-se no tempo. Italmar Menezes
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Vem ter comigo Vem ter comigo para que, juntos, cavalguemos a noite a buscar a luz tão mais intensa que nos levará ao dia Vem ter comigo para que velejemos o dia em corpos mancomunados olhos semi-cerrados como a projetar a tarde vindoura. Vem ter comigo para que a mágica tarde livre-nos de todos os males e nos apresente mais tarde à "AURORA BOREALIS". Vem ter comigo para que o cio do céu de inveja não nos açoite e nos encontre ciando a mais ciante das noites. Vem ter comigo no fim deste dia, prenúncio de um dia novo antecessão de outros dias, com noites em sucessão. Vem ter comigo para que o ciclo dos dias não veja no ciclo da gente nada novo ou diferente de um ciclo só de paixão. Vem ter comigo para que, juntos, morramos clamando vida e para que renasçamos a cada volúpia. Vem ter comigo para que nossa união seja sempre bendita sem mácula, preconceito, vergonha ou culpa. Vem ter comigo para que, corpos em ócio, unidos, durmamos nus. Vem ter comigo pois, tu és me

Apologia à sabiá-laranjeira

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Apologia à sabiá - laranjeira Essa luz que me invade não é o bastante para amainar a angústia que me traspassa Nem o chilreio caótico dos pardais quer me traduzir o desejo de um bom dia. Bom -dia, dia luzente! Mesmo que a mim me pareça que todos os dias são iguais: monótonos e sombrios dias em cujas horas hei de vagar, apático, com a carapaça que travisto. Pela janela que, como solícitos braços, abre-se ao parco verde de raras árvores de pouca fronde umas aquí, outras acolá, penetram, misturados à balbúrdia pardálica, maviosos acordes alentadores. É minha amiga sabiá - laranjeira arguta conselheira que, cotidianamente, nesses dias primaverís, desperta - me com seu canto como a querer dizer - me: - Bom -dia, prisioneiro! Desperta para a vida! Sim, amiga sábia... tu, como eu, sabes que sou enclausurado em meu próprio espírito embora tenha me concedido Hábeas Corpus para satisfazer alheias alegrias. Tu, que tens do céu a garandeza como universo e que tens por pasto a n
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Preciso de alguém Preciso de alguém que me faça ser educado, que amanheça ao meu lado. que sempre me compreenda, se necessário, me repreenda, dizendo sempre: - Meu amor... Preciso de alguém que sempre me dê coragem, que queira seguir viagem pra onde quer que eu vá, sem ao menos perguntar pra onde é que eu vou. Preciso de alguém que queira mudar minha vida, que lute comigo na lida, que me aponte os caminhos, que queira receber meus carinhos, que me mostre o meu valor. Preciso de alguém que me tenha mais que amizade, que satisfaça minhas vontades, que me beije com paixão, que sempre me estenda a mão e que tenha o cheiro da flor. Preciso de alguém que queira se sentir amada, que queira ser cortejada, cantada nos mais belos versos e queira ser a dona do universo e de tudo de belo que for. Preciso de alguém que ao me ver, me sorria, que me mostre sua alegria num espontâneo sorriso. Por Deus, deste alguém eu preciso sem demora, por favor, pra me tirar desta angústia, desta agon
FUNERAL DE UM POETA I Acabem com um poeta e apresentem à sua alma a conta da inumação. Não precisa réquiem que um poeta só prega a poesia e, por isso mesmo, só crê no que pode ver ou sentir para santificar pelo cunho da palavra. Não precisa lágrimas que a memória de um poeta, nenhum pranto lava. Não acendam velas que a poesia já o tornou iluminado e ele próprio distribuiu seu lume sem perder o brilho, sem perder o brio. Quantos de vocês, impiedosos homicidas, não se deleitaram com seus feitos antes que suas imundas mãos assassinas liquidassem o portentoso? Quantas vezes não lhes serviu de consolo o laivo de seus versos o carisma de seu universo que, de qualquer modo, lhes amainou as angústias? Acabem com um poeta mas, não lhe cavem sepultura funda que um poeta não precisa se esconder; não lhe abram cova profunda para que possam brotar como sementes os despojos de sua mente ainda que sejam para semear um lúgubre lugar. não precisa marcar a data que um poeta, despropositadamente, viveu
CLÍMAX Lentamente bamboleias; este bambolear que arranca de mim os cicios que te cativam. Minhas mãos ébrias e aventureiras vagueiam displicentes por tuas formas, provocando frêmitos que te bolinam. De súbito, te vejo sucumbir; e tão intensamente, que me leva contigo. Meu sangue borbulhante verte-se em corredeiras que deságuam aonde então, já se tinha feito mar. As ávidas línguas que se entrelaçam e sorvem-se, uma à outra, o calor febril das peles que se atritam, o leite salgado, o fragor dos corpos torpes, os gemidos lacônicos e plangentes, são as evidências do clímax deste mágico momento. Depois o torpor... os olhos magnetizados, fitam-se apaixonadamente enquanto que as mãos afagam as faces em sinal de agradecimento. Embevecidos, permanecemos assim... Meu peito cheio de amor, teu corpo cheio de mim. Morrendo de exaustão, quedamo-nos de lado, contentes em saber que, de exaustão, todos os dias, morremos para a vida. Italmar Menezes
Galeria * Teu rosto assim... tão paz; teus olhos assim... tão luz; e o tempo assim... no tempo parado, como a argüir do futuro a lembrança do passado. Por que mãos assim... tão dádivas? E tez assim... tão dúvidas, como se rogasses por nós a remissão que não merecêssemos? Por que semblantes assim... tão pudicos, como a conter a voz do que nem mesmo disséssemos? E como ficas assim... imóvel e muda, a me fitar recriminante, no altar desta galeria com teu olhar desconcertante e teu rosto pálido de quem me repudia. São teus traços justos que me afugentam com a rapidez de quem me denuncia e este teu ar brando que me acolhe com o calor de quem me acaricia. Italmar Menezes * - Este poema dá título ao livro que num futuro poderá estar à disposição dos amantes da poesia.