FUNERAL DE UM POETA I

Acabem com um poeta
e apresentem à sua alma a conta da inumação.
Não precisa réquiem
que um poeta só prega a poesia
e, por isso mesmo, só crê no que pode ver ou sentir
para santificar pelo cunho da palavra.
Não precisa lágrimas
que a memória de um poeta, nenhum pranto lava.
Não acendam velas
que a poesia já o tornou iluminado
e ele próprio distribuiu seu lume
sem perder o brilho, sem perder o brio.
Quantos de vocês, impiedosos homicidas,
não se deleitaram com seus feitos
antes que suas imundas mãos assassinas
liquidassem o portentoso?
Quantas vezes não lhes serviu de consolo
o laivo de seus versos
o carisma de seu universo
que, de qualquer modo, lhes amainou as angústias?
Acabem com um poeta
mas, não lhe cavem sepultura funda
que um poeta não precisa se esconder;
não lhe abram cova profunda
para que possam brotar como sementes
os despojos de sua mente
ainda que sejam para semear
um lúgubre lugar.
não precisa marcar a data
que um poeta, despropositadamente, viveu nefasto;
e jamais o digam fátuo, presunçoso,
que, em verdade, ele é virtuoso.
Acabem com um poeta
mas, não lancem ao vento o que lhe era mais caro:
a palavra;
mesmo porque ele não mais lhes poderá ouvir.
Se lhes assentir o intelecto uma condolência,
sobre sua lápide, um único epitáfio:


"AQUÍ JAZ UMA CONSCIÊNCIA"

Italmar Menezes

Comentários

  1. Parabéns pelo blog voltado para cultura. Leia minha poesia: CANTO AO CEARÁ, selecionada para coletânea do XII Prêmio Ideal Clube de Literatura. Obra lançada no dia 21 de janeiro de 2010. Leia, comente e divulgue. Veja também meu documentário, penúltima matéria do blog: Padim Ciço, Santo ou Coronel? Meu blog: www.valdecyalves.blogspot.com

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